Na última quarta-feira, o tema de uma rubrica do programa “Você na TV” (TVI) foi dedicado à bissexualidade. Em estúdio estavam o psicólogo Quintino Aires e a escritora Luísa Castel-Branco.
O ponto de partida do programa foi a análise de um estudo que refere que 80 por cento da população é bissexual. O programa contou com um vox pop em que se perguntava a pessoas na rua o que era ser bissexual. Quintino Aires esclareceu que a bissexualidade não era uma modernidade como foi afirmado por uma transeunte e explicou que não se podia afirmar que "não se é aquilo que se desconhece".
Noutro vox pop a questão efectuada foi: “Namoraria com um bissexual?” A maioria dos entrevistados respondeu que não. Várias respostas passaram por desinformados “ciúmes” e receios da “ambiguidade”. Mais uma vez, Quintino Aires esclareceu que ser bissexual não significa ir para a cama com os dois sexos ao mesmo tempo. O mesmo especialista referiu que a sexualidade não é definida pelo código genético.
Por último, Luísa Castel-Branco trouxe ainda a debate a ideia, muitas vezes veiculada publicamente, que lobo frontal dos homossexuais seria diferente. Quintino Aires indicou que essa teoria não tem justificação científica.
Conheço muitos desses estudos pois na faculdade tive oportunidade de ler alguns mas fica sempre a pergunta: como se explica a homossexualidade e a bissexualidade de percentagens elevadas da população masculina em tribos e povos estudados pela Antropologia no século XIX e na primeira metade do século XX? Penso por exemplo nas tribos da Papua Nova-Guiné ou do deserto do Egipto. Como se explica a vivência da homossexualidade e da bissexualidade entre os Celtas, na Grécia Antiga, em Roma ou nas tribos do Novo Mundo?
A sexualidade humana é demasiado complexa para ser explicada apenas por «meia dúzia» de estudos científicos. É preciso olhar para a História, Antropologia ou Sociologia. Para além disso muitos desses estudos estão desactualizados face a novos conceitos que surgiram na Génetica Médica nos últimos dois a três anos. Afinal, os genes que transportamos podem não ser determinantes, mas o que de facto faz toda a diferença é o «ambiente» que interage com esses genes: clima, alimentação, ambiente bioquímico intra-uterino, emoções, estilos de vida, hábitos de sono, microbioma...
Mas nenhum dos envolvidos referiu os últimos dados no campo da Investigação Ciêntifica, aTeoria Epigenética da Homosexualidade. Neste caso, tem que ver como in utero o feto está sujeito aos diversos andrógenos, ou seja às hormonads sexuais, durante o período de gestação. Embora sejam os andrógenos a determinar o desenvolvimento das caracteristicas fisicas referentes ao género, a exposição ao andrógenos é também determinantes na orientação sexual. Isto está cientificamente provado, e em constante desenvolvimento, através de investigação feita ao longo de décadas, não é pura expeculação, ao contrário do que foi feito no programa. Desde a homosexualidade, passando pela bisexualidade, até à heterosexualidade e transexualidade, esta investigação trata. Do lado da genética pura, ficou provado que estes processos in utero , ocorrem ente elementos da mesma família genética. Ou seja, na mesma família, este processo ocorre com o passar dos genes à prole. Por isso é que na mesma família, exisrem tios, primos e até irmãos que são homossexuais. O mesmo acontecendo com a heterosexualidade. Mas aqui, à mesma, a Ciência diz que os casos de homosexulidade, são uma minoria. E o mesmo, também, com a bisexualidade e a transexualidade. Algo, que de alguma forma, descredibiliza tal estudo, especialmente se se basear em simples questionário. A população em questão é determinante. E uma experiêcia sexual, qualquer que seja, não determina a orientação sexual. Talvez, se possa, sim, estudar nesse estudo, as Mentalidades. Pois, algumas pessoas, poderão, de alguma forma, num certo ponto da sua vida, estar abertos à perpectiva de a sua sexualidade ser mais fluída. Mas isso não determina necessáriamente a sua sexualidade por sí. O programa, pelo contrário, só permitiu que a pop , pela sua vox , manifestasse o seu preconceito e intolerância à diferênça. Outra vez, não serviu mais, que à expeculação livre e não fundamentada de dados sem a devida interpretação cientifica necessária.