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Esteróides: De sapo a príncipe em seis semanas

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O consultório do Enfermeiro Carlos Gustavo Martins está de volta. Um artigo em especial para os viciados em ginásios e nos riscos que são induzidos a correr por querer "aquele corpo perfeito" sem saber quais são os efeitos secundários. Aqui segue a questão de um leitor.

 

"O meu namorado comprou uns frascos de esteróides e uns daqueles boiões com complementos de proteínas que lhe impingiram no ginásio. Eu também gostava de ter um corpo muito mais definido e pessoalmente gostava de saber quais as vantagens, mas também os riscos dos esteróides! Ajuda-me?

Obrigado!

Leitor identificado"

 

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Olá caro leitor,

 

Não vou assumir que todos somos assim, nem estou certamente a assumir que apenas isso conta, mas quantos de nós não nos deixámos já encantar por um corpo mais definido, mais detalhado ou mesmo mais "musculadão"? Ou por uma menina com aqueles seios exactamente do tamanho certo, com as curvas não definidas mas "esculpidas"?

Podemos vê-los todos os dias nas capas das revistas, sejam elas revistas de desporto, de moda, ou nas chamadas "revistas cor-de-rosa". Mas serão naturais? E acima de tudo, será saudável a forma de lá chegar?

Não foram uma nem duas vezes que me interrogaram acerca do uso de esteróides e é apenas disso que vou falar. Os chamados ciclos... Obviamente que a  liberdade pessoal é sagrada, mas o dever da informação também. E como tal, sempre que sou questionado acerca destas práticas a minha resposta é sempre a mesma: informo dos riscos, das vantagens e de que a decisão final é sempre do próprio.

Mas falemos então do que são, para que servem e em que mundo entramos.

Esteróides são na sua génese, químicos que todos nós naturalmente produzimos e que nos ajudam no nosso dia-a-dia a desempenhar uma série de tarefas. Ajudam-nos também em alguns processos tais como o crescimento. Fazem-nos falta e têm a sua dose, altura de produção e mecanismos de controlo como se espera em tudo o que o corpo humano faz.

Os ciclos, por seu turno, são "adaptações" deste uso médico. Usados normalmente para fazer crescer os músculos e a definição de desportistas, trazem os seus riscos e possíveis consequências.

Porquê em 6 semanas? Porque este é o tempo que o corpo humano detecta a presença de hormonas exteriores e simplesmente começa a desligar a produção das suas próprias hormonas. O corpo humano poupa sempre que pode. Se tem de forma artificial, para que produzir algo que já tem?

Os efeitos secundários são muitos. O mais procurado é o desejado corpo de ginásio. Baixo índice de gordura corporal, definição muscular e aumento da força. Reparem que referi efeito secundário pois inicialmente estes produtos não foram produzidos com este objectivo. E tudo o que aconteça que seja diferente daquilo para que uma droga é inicialmente produzida, é efeito secundário. Mas estes são os agradáveis. E os outros?

A frase que me ocorre é: "Por fora liceu, por dentro museu". E porquê? Porque embora o resultado à vista seja muito agradável, as consequências são muitas vezes demasiado más para deixarem orgãos intactos.

- Calvície: a produção de testosterona está intimamente relacionada com a queda de cabelo. Ocorre naturalmente com a idade (ou por vezes mais cedo devido a outros factores), mas em níveis aumentados de testosterona de forma artificial, a probabilidade é maior.

- Seios e barba... no sexo errado: Seios no homem e barba na mulher. Ambas as hormonas, testosterona e progesterona circulam livremente no corpo tanto do homem como da mulher. E estão relacionados um com o outro, o que quer dizer que aumentando ou diminuindo um o outro, o correspondente aumenta ou diminui em conformidade. Se aumentarmos de forma artificial um, o outro acompanha. Mas se repentinamente pararmos um, o outro leva tempo a diminuir e nesse tempo vai fazendo o seu trabalho. O errado entenda-se é criando seios no homem e barba na mulher.

- Atrofia testicular: Já tinha dito anteriormente que o corpo poupa. Ora se não necessita dos testículos para produzir testosterona, para que mantê-los?

- Infertilidade: Tal como no ponto anterior, se os testículos não são usados para produzir hormonas e diminuem de tamanho, o mais provável é que a contagem de espermatozóides e a sua saúde provavelmente será afectada.

- Desequilibrios emocionais: a testosterona desempenha um papel importante no comportamento humano. Em excesso pode provocar no mínimo aumento da agressividade e diminuição da tolerância. E não preciso de vos explicar as consequências disso.

- Cancro e quistos hepáticos: todas as substâncias são "filtradas" no fígado. A probabilidade de quistos e cancro hepático aumentam substancialmente com o uso destas substâncias.

- Insuficiência cardíaca e enfartes: o aumento do colesterol "mau" associado ao uso destas substâncias provoca acumulação de placas de "gordura" no interior dos vasos, que quando se desprendem provocam oclusão arterial e em específico no coração podem provocar enfarte e como consequência morte.

 

A pergunta que fica é simples: vale o que vemos pelo que não vemos? Vale a pena o que obtemos exteriormente pelo que prejudicamos interiormente?

 

Um abraço cheio de saúde,

Enfº Carlos Gustavo Martins

 

Licenciado em Enfermagem, Carlos Gustavo Martins exerce funções no Serviço de Urgência de um Hospital Central. É enfermeiro de viatura médica de emergência e reanimação e do helicóptero de emergência de Lisboa. Colabora com o dezanove.pt desde Março de 2011. 

 

Estamos disponíveis para receber as tuas questões e dúvidas. A tua identidade será, se assim preferires, salvaguardada. As perguntas seleccionadas serão respondidas no espaço de crónica do nosso Enfermeiro aos Domingos aqui no dezanove.pt 

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