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Ali Franco: “Disseram-me que não teria futuro se não mudasse a minha maneira de ser”

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Entre pinceladas nas telas com elevado homoerotismo, Ali Franco respondeu às perguntas do dezanove.pt.  A sua prioridade é terminar uma série de quadros para tentar organizar, em breve, a sua primeira exposição em Lisboa. Os seus trabalhos versam sobre as barreiras de género, pessoas transgénero e gays, numa tentativa de fugir às habituais representações destas realidades.

Ali é da Ucrânia e está a viver agora em Portugal: "Não o podia fazer no meu próprio país, a minha sociedade é muito severa e mesmo homofóbica" diz ao dezanove.pt. E justifica: "A maioria das galerias vendem para 'famílias' e não quer expor nada que seja considerado provocatório". "Após o fim da URSS esperei muitos anos, mas nada mudou, por isso decidi finalmente mudar de país. A minha vida até podia ser paradoxal, mas não é eterna", diz-nos a sorrir.

 

dezanove: Fala-nos um pouco de ti e explica-nos como é que a arte passou a fazer parte da tua vida.

Ali Franco: Nasci na Ucrânia, muito perto da fronteira com a Polónia. Na altura, ainda era tudo URSS. A minha vida sempre foi cheia de contrastes e aventuras. Depois do colapso da União Soviética a minha família mudou-se para a capital onde estudei no liceu e na universidade. Eram tempos difíceis de uma grande crise e também de corrupção, mas escolhi como profissão ser artista ou então isto foi escolhido para mim, não sei. Só sei que não consigo imaginar a minha vida sem arte. Na verdade posso dizer que o meu primeiro professor foi o meu pai.Os meus pais também têm formação artística. Ele preparou-me antes de ir para o liceu, tive a melhor nota do exame e consegui uma bolsa para estudar de graça.

Graças aos meus pais, sempre vivi numa família com mente aberta e tolerante. Eles sempre me deixaram ser eu e sempre me apoiaram. Mas isto era apenas dentro da minha família. Fora tinha de lidar com coisas que me chocavam e me faziam sentir mal o tempo todo.

 

E na escola, como foi?

Quando estudava os professores diziam-me que era demasiado individualista, tinha muita teimosia, que pintava coisas estranhas e não acerca da vida real. Chegaram a dizer-me que a minha abordagem era errada e não teria futuro se não mudasse a minha maneira de ser. Mesmo assim era dos melhores do curso. Passado uns anos comecei a pintar quadros mais comerciais, tentando encontrar o caminho “certo”. No entanto, isso cansou-me e aos 35 anos só quero ser eu.

 

Porque razão vieste viver para Portugal? Há quanto tempo estás cá? Como te sentes?

Sempre quis viver no Sul da Europa. Já tinha viajado e vivido em alguns países: Bélgica, Holanda, Espanha, França, Israel e Turquia. Esta experiência fantástica fez-me aprender imenso. Percebi que em todos estes países a mentalidade era muito mais aberta do que na Ucrânia. Vivo cá há quase um ano e anda é tudo um pouco estranho para mim, mas pelo menos posso respirar livremente. As pessoas são simpáticas e generosas. Gosto muito do tempo, das paisagens, dos locais históricos encantadores, da comida – tudo me parece óptimo. Aqui comecei a pintar novamente e a assumir-me sem problemas para outras pessoas. É aqui que quero fazer exposições e trabalhar na minha direcção.

 

Podes descrever a tua arte de forma breve?

O amor verdadeiro não é merecedor de vergonha – é o que quero transmitir com o meu trabalho.

 

Onde encontras inspiração? É com modelos ao vivo ou através de imagens?

Sou uma pessoa muito apaixonada, entusiasta, dedico muito do meu tempo ao amor à arte, teatro, shows, performances, música, dança e às pessoas que são belas. Tudo me inspira. Adoro pessoas criativas e que falam abertamente sobre si. E com o meu trabalho pretendo também pegar nisso e inspirar outras pessoas também.

 

Quais são os planos que tens em relação aos teus trabalhos artísticos?

Neste momento estou a trabalhar numa série dedicada ao transgenderismo na nossa vida, às nossas mentes e ao quebrar das regras. Faço em parte arte digital, mas recentemente comecei a pintar em acrílico. Planeio fazer uns 13 a 15 quadros e o mesmo número de trabalhos digitais. Este assunto interessa-me particularmente porque nunca me senti totalmente identificado com o meu género e vejo muitas pessoas com o mesmo problema. Isto começou por ser uma espécie de experiência que iniciei quando partilhava os meus trabalhos no Instagram. Achava que não era interessante para os outros, por ser muito específico e por não ser dirigido a todos. Mas em três meses alcancei três mil seguidores. Recebia imensas mensagens e falava com centenas de pessoas nesta altura. Foi uma surpresa. E, claro, fiquei feliz ao mesmo tempo.

Agora não quero falar sobre isto demasiado a sério. A arte e a vida não têm de ser aborrecidas. Quero fazer delas algo atractivo e fascinante, ligeiramente divertidas, como se fosse um conto de fadas para adultos.

 

Que conselhos darias a alguém que queira visitar a Ucrânia em breve?

A Ucrânia não é um país tão turístico como Portugal. Mas há vários locais bem bonitos. Kiev é mesmo uma cidade bonita, não se vão arrepender de a visitar. Impressiona! No entanto, as celebrações do orgulho LGBT são sempre arriscadas  e perigosas. Muitas vezes ocorrem conflitos e ataques. Depois do fim da URSS a Ucrânia tornou-se muito religiosa. Uma mudança levou à outra, e ainda se nota uma grande influência da mentalidade russa. A maioria dos gays vive de forma escondida. Lá nenhum dos meus amigos é assumido publicamente. Por causa disso muitos deles acabaram por emigrar: EUA, Inglaterra, Itália, Bulgária e também Portugal. Foi um amigo que me ajudou a vir para cá. A Ucrânia quer fazer parte da União Europeia, mas primeiro têm de mudar a mentalidade no que respeita à vida das pessoas e à religião. Ainda há muito por fazer no campo da educação. Em relação à Eurovisão do próximo ano fiquei muito feliz, mas será muito difícil financeiramente para a Ucrânia organizar o festival. A minha favorita de todos os tempos é a Conchita, claro!

 

Vê aqui alguns dos trabalhos de Ali Franco

doctor_and_colombina

Doctor and Colombina

 

tell me Muse

Tell me Muse...

 

red silk

Red silk

 

nobodys_here.jpg

Nobody's here

 

stranger

People are strange when you're a stranger

 

risky game

Risky game 

 

simone

Simone

 

Trabalhos de Ali Franco

Entrevista de Paulo Monteiro

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