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Célio Dias: "É importante saber encarar e procurar ajuda"

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Célio Dias, judoca representante da Selecção Nacional de Portugal, foi também o primeiro atleta português a assumir publicamente a sua homossexualidade. Hoje encontra-se à conversa com o dezanove.pt sobre a sua jornada e partilha algumas das suas opiniões sobre o contexto LGBT+ na actualidade da sociedade portuguesa.

 

dezanove: Costumas falar sobre homossexualidade?

Célio Dias: Sim, é um tópico actual em que há muito trabalho que ainda precisa de ser feito. Sou activista e sinto-me sempre na obrigação de explorar qualquer oportunidade que me permita ajudar a desmistificar este tópico.

 

De que forma é que a tua orientação sexual faz parte da tua identidade?

De uma forma muito integrativa. Eu não separo a minha identidade sexual do resto da minha identidade. Acho importante vermo-nos como um espectro de forma a expandirmos a compreensão daquilo que somos. Identifico-me como homossexual, como me identifico como negro ou doente mental - porque faz tudo parte daquilo que constitui quem eu sou.

 

Como foi a tua jornada de descoberta da tua orientação sexual?

Foi um caminho que se foi descobrindo e construindo. Sempre me senti atraído pelo mesmo sexo, mas foi só no quinto ano que percebi que eu era uma excepção à regra. Na altura foi um momento de ruptura para mim, mas foi também um momento crucial, de consciencialização daquilo que eu era. No início rejeitava aquilo que eu era; Mais tarde, comecei aceitar a minha atracção por homens, mas não queria que as outras pessoas soubessem... Até que se deu a epifania e partilhei com as pessoas mais próximas, e as entidades com quem trabalhava, que eu me identificava como uma pessoa LGBT+ e que integrava e abraçava isso com todo o amor com que abraçava todas as minhas outras características.

 

Falando na multitude de características que formam a tua identidade, de que forma o conceito de interseccionalidade marcou ou tem marcado a tua jornada?

A interseccionalidade em si fala de vários tipos de discriminação acumulados numa só pessoa, e a forma como a relação entre eles impactam a vida do indivíduo. Eu, por exemplo, sou gay e negro, para além da discriminação que carrego pela minha orientação sexual, ainda lido com os preconceitos que vêm com a cor da minha pele. Em relação a como tem marcado a minha jornada, já conheci várias pessoas, da comunidade LGBT+ inclusive, que me viam de uma forma distorcida com base nessa relação, contudo, nunca deixei que me definisse como pessoa.

Eu, por exemplo, sou gay e negro, para além da discriminação que carrego pela minha orientação sexual, ainda lido com os preconceitos que vêm com a cor da minha pele.

 

Ainda no tópico de identidade, consideras que a comunidade (masculina) gay portuguesa, tem uma identidade partilhada?

É difícil de dizer porque eu acho que o homem gay português não tem uma identidade homogénea em si que permita ser comparável com a de outrem. Na minha experiência, o homem gay português ainda divide muito a sua identidade sexual do resto da sua identidade. Existe o ‘eu’ que é gay e depois o existe o ‘eu’ social, o ‘eu’ …

 

Porque dirias que isso acontece?

Eu acho que isso acontece pela pressão para heterossexualidade que existe na nossa sociedade. Somos um país de tradição católica, tanto que acredito que somos ainda afectados pela visão heteronormativa que provém da Igreja e que sempre moldou a forma como vemos a sociedade.

 

És religioso?

Sim, sou um homem místico sem dúvida.

 

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Como sustentas a relação da tua orientação com a tua vida religiosa?  

Esse é um tema sempre polémico pelas mesmas contradições que acabamos de falar, e como disse antes, eu não separo a minha identidade, portanto o ‘eu’ que vai a missa, é o mesmo eu que se identifica como homossexual. Felizmente estou bem integrado na minha paróquia. Faço parte de uma unidade jesuíta que sabe da minha identidade sexual e daquilo que eu sou enquanto pessoa e sempre me aceitaram.

Felizmente estou bem integrado na minha paróquia.

 

Um último tema que gostaríamos de tocar era a saúde mental. Com tantos factores a influenciarem a formação da identidade de um indivíduo LGBT+, como descreverias a relação da saúde mental e a identidade LGBT+?

Existem já vários estudos que mostram que as minorias, não só membros da comunidade LGBT+, são mais propícios ao desenvolvimento de doenças do foro mental. Sinto que a pressão social, e muitas vezes familiar, continua ainda a activar esses mecanismos mentais que levam ao elevado número de depressões, e até suicídios, que testemunhamos na comunidade LGBT+.

 

Na tua opinião, quais são as medidas que podemos aplicar no presente para promover uma comunidade LGBT+ mais saudável no futuro?

Para além de espaços para discussão aberta como forma de ajudar a normalizar o tema, acho necessário uma procura intencional da aceitação do próprio. Tanto na aceitação da própria sexualidade, como na procura de ajuda no caso de doenças do foro psicológico que possam surgir. É importante saber encarar e procurar ajuda, para que possamos construir uma comunidade equilibrada como tanto procuramos, e promover uma vida próspera e bem sucedida para todos nós.

 

 

Entrevista de Diogo Costa

 

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