Prémios dezanove: Os melhores de 2021
Quase que se perde no tempo o tempo que demorou a colocar na lei o fim desta discriminação. Ao longo dos anos eram recorrentes as denúncias de homossexuais que se viam impedidos de doar sangue, apesar do trabalho de vários anos de activistas, associações e partidos. O projecto de lei foi aprovado no Parlamento a 5 de Novembro com base nas propostas do PS, BE, PAN e da deputada não inscrita Cristina Rodrigues.
Aquando do Euro 2020, a UEFA rejeitou que o Estádio do FC Bayern München fosse iluminado com as cores do arco-íris no que seria um sinal evidente contra as leis homofóbicas da Hungria. Contra a homofobia crescente na Hungria, mas não só, e as leis que querem legalizar o ódio, o mundo pintou-se com as cores do arco-íris. Numa semana sem precedentes entidades públicas, clubes desportivos, marcas e figuras públicas pintaram as suas redes sociais com as cores do arco-íris num sinal de respeito pela diversidade. Um pequeno golo num terreno onde a homossexualidade é ainda tão tabu: o futebol.
Uma notícia que nos deixou em choque. No início do ano já Vítor deixava o apelo: "preciso de ajuda". A enfrentar um cancro de pulmão o artista recorreu às redes sociais para pedir donativos. Artista completo, acarinhado há anos por todos com que se cruzava constitui uma referência nacional incontornável. Deixou-nos a 15 de Junho. O seu legado permanece através do evento Porto Drag Festival.
Cristina Rodrigues, Fabíola Cardoso e Joacine Katar Moreira. As vozes entre as vozes.
Três deputadas que se destacaram pelo seu trabalho e luta pela defesa dos direitos das pessoas LGBTI+. Com projectos de lei aprovados, presentes em marchas e denunciando as injustiças que tantas vezes outras vozes quiseram negligenciar e menosprezar. Das minorias fizeram a força e com pequenas equipas fizeram mais do que partidos com estruturas mais bem equipadas.
Nem só de associações vive o activismo. Na rua, na política, nas artes e cada vez mais na imprensa e nas redes sociais. Foi aqui que Guadalupe Amaro deu a conhecer a sua história de vida. O pai expulsou-a de casa por ser transexual. Sofreu num Ribatejo profundo e transformou a dor em força. Em três dias conseguiu que mil pessoas doassem 15 mil euros para a sua cirurgia de redesignação de género no privado, alertando mais uma vez para a lentidão dramática do tratamento deste assunto no SNS. É, sem dúvida, um perfil a seguir em 2022 porque é impossível não adorar a Guadalupe!
Aparentemente algo tão simples como homenagear Gisberta com uma rua no Porto incompreensivelmente ainda não foi concretizado. Esta possibilidade colocou um país defensor dos Direitos Humanos a exigir que uma Câmara Municipal clarificasse o alvoroço que ainda impede que tal seja uma realidade. Gisberta merece uma rua e vai tê-la e o Porto irá ter um plano municipal LGBTI+.
Não é qualquer associação que chega à bonita idade de um quarto de século. O Clube Safo completou 25 anos cada vez mais vivo e acompanhando os novos tempos, os novos termos e os novos desafios que a nossa sociedade se depara. As lésbicas também são pessoas e merecem os seus lugares. Queremos que sejam cada vez mais e visíveis. Sem medos.
Em Abril a EAPN Portugal/ Rede Europeia Anti-Pobreza lançava uma campanha nacional contra o discurso do ódio convocando várias figuras públicas. Num mundo que vive cada vez mais para as redes sociais importa combater com inteligência os comentários de ódio que ali (e aqui) são desseminados. #daravoltaaotexto foi o mote desta campanha.
Ninguém fica indiferente a Eubrite a patinadora que nos arranca um sorriso e uma gargalhada onde quer que esteja. Eubrite significa “liberdade e o empoderamento de sermos livres e a mensagem que ela passa é que é preciso coragem para ser diferente e competência para fazer a diferença”. E se nem a calçada portuguesa a trava, a próxima etapa pode muito bem ser a televisão, o teatro, o cinema ou até Hollywood.
Liliana e Raquel partilham as etapas da sua gravidez tão desejada. Depois de várias tentativas infrutíferas e que abalam qualquer casal, desta vez Martim, o bebé milagre, está a chegar graças à PMA, já aprovada no nosso país. É no Instagram que vão partilhando com os seguidores as etapas e tirando dúvidas para casais que anseiam pela maternidade. Com uma presença nas redes sociais bastante activa , em 2021 decidiram tornar-se visíveis e, por isso, sofreram um episódio de discriminação: "Sejam o que quiserem, mas dentro da vossa casa". O casal respondeu alto e bom som: "No que depender de nós, irá continuar a ver "estas cenas" tanto nos jardins como no telemóvel. No que depender de nós, iremos continuar a inundar os jardins de amor".
Se voltasses atrás no tempo, o que dirias ao teu eu de 14 anos? A Levi's decidiu recorrer a cinco jovens portugueses LGBTI+ com testemunhos de empoderamento: Alex D’Alva Teixeira, Lola Herself, Tamara Alves e T Guys Cuddle Too (Ary Zara e Isaac dos Santos).
Para além disso a marca fez questão de verter para esta colecção mais do que as cores e simbologia habitual no mês de Junho, mas também agarrar na temática da linguagem e explicar-nos porque devemos respeitar os pronomes e usar uma linguagem neutra, inclusiva e que dê espaço para que as pessoas nos digam como preferem ser tratadas.
A equipa do Teatro Nacional 21 inspirou-se em Virginia Wolf , e no massacre da cidade de Orlando, para abordar as questões de género. Com texto de Cláudia Lucas Chéu e direcção de Albano Jerónimo "Orlando" mostra-nos uma caminhada da discriminação até à dignidade humana e em 2022 vai chegar a muitas outras cidades portuguesas.
No dia em que celebraria 87 anos, a RTP2 decidiu transmitir o filme sobre a vida da pintora Maria de Lourdes Ribeiro, mais conhecida por Maluda. A promoção anunciada na estação pública mostrou, como de resto deveria ser sempre, um beijo entre as actrizes. Sem pudor e com amor como tantas vezes acontece com casais heterossexuais. Uma oportunidade de dar os Parabéns a Jorge Paixão da Costa e às actrizes e claro, à RTP2 por nos dar a conhecer quem faz e quem fez a nossa história.
No mundo do desporto ainda é raro que atletas revelem a sua orientação sexual ou identidade de género se pertencentes à comunidade LGBTI+. A ideia ainda erradamente enraizada que para vencer é preciso pertencer ao mundo heterossexual e patriarcal tem de ser dissipada. Exemplos como o de Isabel, com uma carreira cheia de títulos mundiais, fazem falta e precisam de mais eco de modo a empoderar as novas gerações a abraçar o desporto e a surfar por cima do preconceito.
Talvez por ter sido transmitido apenas na RTP2 (e disponível na RTP Play) passou um tanto ou quanto despercebido o programa que pretendia precisamente desconstruir estereótipos e dar visibilidade a temas considerados tabu. Jantar Indiscreto contou com um leque apurado de convidados, foi brilhantemente moderado por Myriam Taylor e pôs na mesa os temas que queremos ver discutidos no quotidiano sem sensacionalismo e em plataformas de maior alcance. Finalmente um programa de conversas com significado e com a evidência de que assim é possível a aprendizagem.
João Pedro Anjos, o activista e “herói” que surpreendeu Portugal por aparecer com a bandeira do arco-íris na manifestação organizada pelo Chega em 2020, transpôs o seu activismo para a folha de papel e publicou o seu primeiro livro. Com uma escrita cativante e empolgante João Pedro Anjos prende-nos às páginas do livro desde a primeira página até à última, num ano em que precisamos tanto de razões de viver e alimentar o orgulho. Obrigado!
Mag Rodrigues pegou na objectiva e começou a desconstruir estereótipos e preconceitos associados às famílias arco-íris. Mag fotografou várias famílias em Portugal, todas elas diferentes, com pessoas com várias identidades de género, com diferentes tons de pele e também de diferentes origens dando uma visibilidade e projecção únicas às nossas famílias e ao fio condutor que as une: o amor.
Amplexo quebra as barreiras do que é tradicionalmente considerado fado. Lançado no dia de Luta Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, o tema retrata a história de duas mulheres que vivem um relacionamento homoafectivo e todo o sofrimento subjacente ao processo de coming out. Inês de Vasconcellos deu assim mais representatividade LGBTI+ no mundo da música e à nossa vida.
Entre as páginas que mais se destacaram este ano encontramos a de Marta Guerreiro (@martaguerreiro__) e a Não Me Calas (@naomecalas_), duas páginas em crescendo que falam abertamente de temas como a sexualidade, a não-monogamia, de poesia bem como de diferentes formas de expressão e de saúde mental. Dentro de tantos outros assuntos importantes, muitos deles pouco abordados, destaca-se o trabalho em prol e para a comunidade LGBTQIA+.
Graças ao concurso promovido pela IKEA, a Associação Plano i abriu em Outubro o Espaço LIV(r)E: um centro comunitário para pessoas LGBTI+ no Porto destinado ao apoio psico-social, aconselhamento individual jurídico em caso de discriminação laboral, formação especializada a empresas além de pretender fortalecer competências pessoais, sociais e profissionais. Um bom exemplo a replicar em mais cidades do país!
Uma frase escrita há 11 anos voltou à ribalta devido ao seu autor ter sido eleito como presidente do Tribunal Constitucional. Pedidos de esclarecimento a este tipo de mentalidade por parte de importantes figuras do estado ficaram sem resposta. Face ao perigo que estas ideias representam só nos resta estar alerta e continuar a defender as pessoas LGBTI+ da ostracização e da discriminação.
Um projecto de jornalismo de investigação e informação digital nascido este ano publicou uma vastíssima investigação sobre as terapias de conversão em Portugal. Ouvir, por exemplo, o testemunho de Miguel Salazar é levar um murro no estômago e um alerta para uma situação sobre a qual urge legislar e proibir. Graças ao trabalho do Setenta e Quatro estaremos mais perto de terminar com esta atrocidade.
Foi com a maior incredulidade que assistimos a isto: face à homofobia latente por um Estado europeu opta-se pela neutralidade. Quando estão em causa Direitos Humanos não se pode ficar neutro, quando o perigo assola a Europa e já nos ataca dentro de portas, a indiferença pode custar vidas e provocar danos traumáticos na adolescência, na juventude e nos adultos de hoje e de amanhã. Portugal fechou da pior forma a Presidência da UE, apesar de uns dias depois ter "remediado" a situação. Ocasião para citar Desmond Tutu: "Se és neutro em situações de injustiça, escolhes ficar do lado do opressor".
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