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Nem na mata se encontram histórias assim

Será que nós encaixamos?

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É cada vez mais comum ligarmos a nossa televisão e vermos um casal homossexual numa novela ou num anúncio de televisão. A novidade aqui é que agora isso é possível mesmo nos canais generalistas, onde outrora não havia este espaço.

Estas “personagens” são de extrema importância porque atingem uma alargada parte da população portuguesa e principalmente o público que não se dirige a nenhum espaço específico para poder ter acesso à temática. Ou seja, o que outrora só tinha espaço na internet, como sites, blogues, redes sociais e mesmo notícias, ou eventos quase exclusivamente na capital ou o quanto muito no Porto e, portanto, num canto bem escondido da grande maioria, hoje aparece em horário nobre na televisão, em outdoors, em publicidade, em panfletos entregues em casa e em espaços físicos, como o cinema e teatro, como em concertos ou diversos espectáculos performativos que questionam a identidade de género, a expressão de género, o sexo biológico, a orientação sexual, os sentimentos que se nutrem por outras pessoas, o interesse romântico e o interesse sexual ou a ausência de ambos, o corpo e a sua relação com este. Isto permite que  todas as pessoas possam aprender outra realidade e possam reconhecer a sua normalidade e naturalidade, até semelhanças, como sempre devia ter acontecido.

A informação tem de ser prioridade na sociedade actual e aproveitar o maior impacto que os media dispõem para chegar ao maior número de pessoas. Ora de forma mais informal, através de personagens que abordam esta temática numa vivência na primeira pessoa e própria dos desafios que é ser LGBTQIA+ em Portugal, ora através de programas mais formativos, vocacionados para temas que ainda hoje são sensíveis, que se foquem em educar os telespectadores, em assuntos tão actuais como estes.

Em suma, urge desmistificar e normalizar o tema, assegurando o devido relevo e é assim que subtilmente, ainda que, dando o exemplo da telenovela, não tenham ainda desempenhado papéis principais, tais personagens acabam por se tornar dia-a-dia na casa dos portugueses e a contribuir para a normalidade e aceitação de todos os tipos de pessoas.

Recentemente temos duas telenovelas, da SIC e TVI com personagens LGBTQIA+. No início do ano tivemos a participação do casal Tiago e Luan no programa Secret Story (TVI) o que teve grande impacto. Ambos receberam o carinho dos telespectadores que viam o programa. Na área da música também os Fado Bicha que têm tido visibilidade quer na televisão generalista portuguesa, quer em eventos e festivais mesmo que não centrados na temática LBGTQIA+. Este projecto une sabiamente a tradição popular, o fado e a sua carga emocional, com temas relacionados com assuntos LGBTQIA+, e quem já assistiu a uma performance deles pode também notar que há um trabalho muito importante de consciencialização e desmistificação: é um espectáculo queer para todos. Isto é humanizar a temática, dar-lhes um rosto e uma voz, reconhecendo que muitas vezes as suas anteriores opiniões não passavam de estereótipos na cabeça de muitos, que até então não haviam conhecido ninguém LGBTQIA+ e julgando-os à partida, formando preconceitos e mitos muitas das vezes infundados.

“O Fado Bicha é um espectáculo queer para todos. Isto é humanizar a temática, dar-lhes um rosto e uma voz”

Porém, há que reflectir ainda sobre vários aspectos: porque é que, por norma, aparece o casal homem branco homossexual com homem branco homossexual? Onde está a representação de outros casais, outras cores de pele, outras formas de expressão? A comunidade reflecte-se apenas neste tipo de casal? Onde estão as mulheres? E as mulheres negras? Onde estão todas as outras letras da sigla LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgéneros, queer, intersexo, assexuais...)? Porque é que no anúncio Cetelem em formato Outdoor, em sítios aparece o casal de dois homens e noutro aparece uma senhora no meio deles?

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Porque é que o cartaz do “Chama-me pelo teu nome” foi colocado com a imagem de Elio e Marzia ao invés de Elio e Oliver? Porque é que as histórias se assemelham tanto, feitas de forma tão padronizadas? Onde está a capacidade de formar personagens mais complexas e que, por acaso, também são LGBTQIA+? Porque é que o factor sexualidade surge nestas personagens como o aspecto mais relevante, excluindo todo o potencial desta? Porque é que há sempre tanto foco no sexo, em tantas histórias, em tantos anúncios? Há pessoas que se consideram assexuais. Há quem queira viver sozinho. Há quem não queira ter filhos. Onde é que se encaixam? Onde estão representados?

“Porque é que o factor sexualidade surge nestas personagens como o aspecto mais relevante, excluindo todo o potencial desta?”

Através de pequenos passos, a comunidade está a conseguir mostrar-se. O caminho ainda é longo para conseguirmos os mesmos direitos e sermos olhados com os mesmos olhos, sem esquecer que o facto de estar melhor não significa que esteja bom. Afinal de contas, já se fala sobre o tema, mas ainda não é em regime de equidade, é preciso adaptar as oportunidades deixando-as justas. Afinal de contas é essencial ao ser humano uma igualdade quando a diferença discrimina, mas também uma diferença quando a igualdade massifica.

 

Sofia Seno e Marta Santos são colaboradoras do dezanove

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